Você Prefere Ouvir ou Escutar?

     Venho realizando posts (no Facebook e no Instagram) sobre a enorme diferença entre ouvir e escutar. Como sempre gosto de fazer, vamos começar definindo o ouvir.

     Segundo o Aurélio OnLine, "ouvir é perceber o som (ou uma palavra) sem que sua atenção esteja de fato voltada à ele". É algo que fazemos durante todo o dia, todo o tempo. Ao caminhar, no trabalho, numa sala de espera. Ouvimos diversos sons de diversas fontes, como pessoas falando, máquinas operando, carros nas ruas, pássaros cantado e tantos outros que sequer nos damos o trabalho de identificar.

     Todos eles passam por nós, sem necessariamente chamar nossa atenção à ponto de mudar nosso foco. São sons corriqueiros, com os quais convivemos habitualmente.

     Quantas vezes paramos para conversar com uma pessoa e enquanto ela fala, já estamos preparando - em nossa mente - uma resposta. Ou ainda pior, nos damos conta que não ouvimos nada e tememos responder fora do tema. Isso é ouvir, é o ato de perceber os sons sem oferecer atenção específica, sem que ele (o som) toque nossa vida de alguma forma.

     Já sobre escutar; "ficar atento para ouvir, estar consciente do que está ouvindo, processar a informação que está recebendo" (Aurélio OnLine).

     Essa parte é mais difícil. Parece simples, corriqueiro, entretanto faz parte da natureza humana o falar, expor ideias, porém estamos tão envolvidos em nós mesmos, em nossas questões, que pouco estamos presentes enquanto o outro fala.

     Quando realmente escutamos, a fala de nosso interlocutor nos toda de alguma maneira. As vezes de forma sutil, outras vezes de maneira bastante intensa.

     Por isso escutar é algo complexo e não trata-se somente de uma conversa, pode acontecer com leituras, filmes, músicas... Vou ilustrar com uma experiência pessoal recente, e que foi muito interessante para mim.

     Amo a música "Nos Bailes da Vida" de Milton Nascimento. Tenho a letra decorada em minha mente e sempre que "ouço" canto junto com ele. Há alguns dias percebi que desde sempre só ouvia a música, porque quando realmente a "escutei", me dei conta da estória que ela conta, de seu real sentido, e admito que fiquei muito impressionada, com a profundidade da letra e com a minha total ilusão até àquele momento eu a escutava.

     Num breve resumo, sua letra conta que não medimos esforços para fazer o que gostamos. Na música Milton mostra seu amor e prazer em cantar. Quando ele diz "foi nos bailes da vida ou num bar em troca de pão, que muita gente boa pôs o pé na profissão [...] para cantar nada era longe, tudo tão bom, até a estrada de terra na boleia de um caminhão...".
   
     De maneira poética, a música mostra que nenhuma dificuldade é grande o bastante para realizarmos algo do qual temos real satisfação. Me surpreendeu o fato de ouví-la há tanto tempo e somente agora ter me permitido escutar.

     Assim acontece com tudo em nossa vida. Deixamos passar grandes oportunidades, boas experiências, por estarmos sempre tão apressados e pensarmos que é perda de tempo parar para escutar de fato o que está sendo dito ou apresentado.

     Tive mais uma prova de que Escutar mexe com nossas emoções, pode mudar nossas opiniões, nos impulsiona a querer mudar, e isso é tão trabalhoso.

     Então, o que posso concluir é que devemos entender o real motivo de não exercitarmos nossa escuta. Será que é devido à correria do dia a dia, ou será que é por que queremos evitar enxergar a mudança que está por vir?

     Vamos lá, faça sua escolha do que você prefere, ouvir ou escutar?

Por Cristiane de Andrade Diniz

Psicóloga - CRP 06/139747