Determinação, Superação e Empatia





     Por diversas ocasiões acompanho meu marido em provas de atletismo de rua, que começam geralmente entre 7h e 8h da manhã, ou seja, os atletas, vindos de todos os lugares, devem levantar no mínimo três horas antes para chegarem cedo e se prepararem, mas ainda assim estão sempre muito animados. Acredite, o clima entre essas pessoas é incrível e contagiante.

     No último dia 18, acompanhei meu marido numa prova de atletismo, nomeada Igaratá 23k. Já o acompanhei em outras provas, onde presenciei várias formas de superação, e desta vez não foi diferente. A prova tem duas modalidades, 10 km e 23 km, é realizada próxima à Represa de Igaratá, onde a maior parte do percurso é de terra em meio à natureza e túneis de floresta, com subidas e descidas. E claro que os atletas devem ter um mínimo de preparo e treino a fim de evitar contratempos e lesões, que sempre podem ocorrer.

     Aprecio muito o foco, a disciplina e a determinação desses atletas. E algo me chamou bastante atenção desta vez. Algo que já tinha presenciado, mas não havia dado a devida atenção. Muitos atletas chegam bem ao final, cansados, encharcados, mas no geral, bem. Entretanto, outros não. Vi ao longe um rapaz vindo carregado, porque sozinho não conseguiria atravessar a linha de chegada, e quando ele adentrou na reta final, talvez os últimos 10 metros, as pessoas que ali estavam (esperando os seus, assim como eu), imediatamente começaram a aplaudir e incentivar o atleta a continuar, dando-lhe força e reconhecimento pelo esforço, com aplausos e palavras de “vamos lá”, “falta pouco”, “você consegue”. E isso, mesmo para o rapaz que não tinha forças para levantar os braços em agradecimento, fez com que ele mudasse sua fisionomia, e carregado atravessasse a linha de chegada. Isso aconteceu com pelo menos mais duas pessoas, enquanto eu assistia.

     Um de nossos amigos veio para a corrida devidamente treinado, mas com uma lesão antiga no joelho, que para esse tipo de prova, não foi bom, pois ele terminou a corrida com muita dor, e quando estávamos todos reunidos, conversando sobre essa lesão que agora deverá ser cuidada com mais atenção, ele contou algo que me admirou ainda mais. Contou que durante a prova, nos momentos que ele mal conseguia caminhar de dor, os demais atletas caminhavam com ele perguntando se precisava de ajuda, ou passavam mais lentamente incentivando-o a continuar, e ele disse que em nenhum momento ele se sentiu só, porque ali haviam pessoas que se preocupavam.

     Sinceramente, eu nunca havia compreendido muito bem o que levara essas pessoas a acordarem de madrugada para realizar as provas, onde as inscrições são caras, que muitas vezes lhe trazem lesões (várias graves), cansaço, dores, sem benefícios financeiros.

     Agora, me sinto menos ignorante, porque entendi que acima de tudo, há a própria superação, se não relacionada à distância, relacionada em fazer um tempo menor que seu último.

     Mas acima de todas essas questões, acima da própria competição, há empatia, mesmo que não saibam, esse colocar-se no lugar do atleta com dor, de prejudicar seu próprio resultado porque parou para ver se um colega precisa de ajuda, isso é empatia, e ela pode mudar o mundo.

     E isso é o que me faz acreditar que o ser humano é bom e pode causar mudanças incríveis neste mundo. Só é preciso fazer com ele, ser humano, tenha consciência disso.

Por Cristiane A. Diniz
Psicóloga, CRP 06/139747

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