Estamos preparados para educar nossos filhos?


Estou certa que num primeiro momento, a resposta que vem à cabeça é um “claro que sim!”. Mas será que prestou atenção à pergunta?

Não estamos falando em criar, fato esse que demanda alimentação, cuidado, higiene e um mínimo de atenção, quase como se fossem plantas. A pergunta é se estamos realmente preparados para EDUCAR uma criança.

Como eu gosto bastante, vamos à definição dessas palavras, segundo nosso amigo Aurélio:
1.    Criar: dar existência; dar origem a; formar; imaginar; cultivar.
2.    Educar: promover o desenvolvimento da capacidade intelectual, moral e física de alguém ou de si mesmo; instruir (se).

Educar é algo mais complexo, cansativo, árduo, e tenho que dizer, em nome dos papais e mamães um processo que as vezes parece (ou pode) ser doloroso.

         Tenho percebido que atualmente o compromisso da educação tem sido delegado à Escola, o que não é certo. À Escola cabe a alfabetização, a instrução teórica; a educação cabe aos pais (desculpe, mas é verdade).

         Educar é penoso, trabalhoso. Não é nada fácil dizer não para aquele serzinho que amamos tanto e que muitas vezes ficamos o dia todo sem ver. Tudo o que nós pais desejamos é dar aos nossos filhos aquilo que não tivemos, incorrendo em ser permissivos demais, protetores demais, amigos demais, esquecendo que criança precisa de amor, mas também precisa de limites, frustrações e uma certa independência para estimular sua criatividade.

         Não estou dizendo que as crianças não podem ter o que nós não tivemos. O que quero dizer é que crianças precisam de algumas contrariedades, obstáculos e limites em sua infância para conseguirem um bom desenvolvimento emocional e cognitivo.

         São pequenos detalhes que devemos observar e atuar na faixa de 2 a 7 anos da criança principalmente (em média). Detalhes estes que se não observados, irá gerar crianças inseguras, ansiosas, medrosas, agressivas, dependentes e limitadas.

         O que vemos muito em nosso dia a dia são esses pequenos tomando decisões para sua vida, como o que vestir, o que comer, para onde ir ou o que quer fazer. A criança nessa faixa etária não tem maturidade emocional ou intelectual para tomada de decisão, ela não sabe o que é melhor para si, essa decisão cabe aos adultos que a estão educando. Deixar a criança decidir seu destino sem ter noção do que é isso, gera ansiedade, tensão e insegurança. Uma coisa é dizer na hora da comida que tem frango e ovo, outra coisa é pedir que escolha o que deve ser feito no almoço. E uma vez escolhido, manter pulso firme para que coma o que foi escolhido, experimentando a sensação de compromisso com suas escolhas, mantendo sua palavra, afinal, na vida, não podemos sempre ter só o que queremos.

         Outra questão que assusta é o compromisso de terminar o que começou. Quantas vezes damos um brinquedo de montar, ou um desenho para pintar, uma tarefa do tipo guardar os brinquedos e ao ver que os pequenos não terminam, deixamos para lá com uma desculpa qualquer. Algumas coisas podem ser deixadas para terminar depois, pela própria criança, e outras deverão ser terminadas no mesmo dia, seja com raiva ou choro, mas deve ser terminada. Se nós adultos, que supostamente somos detentores do saber neste momento, não fizermos dessa forma, estaremos gerando adultos acomodados, que não terminarão nada em suas vidas, porque estará subentendido que sempre haverá alguém que faça por eles.

         Muito importante é a criança ter seu próprio espaço para dormir, que não seja na cama da mamãe e/ou do papai, para que a criança entenda que seus pais não são sua extensão, que ela é única e com isso crie sua própria personalidade e individualidade. Se tiver um sonho ruim, então receberá atenção e carinho, sendo levada de volta ao seu espaço, só assim perceberá que seus pais estarão sempre prontos a protegê-la, mas que cada um tem seu lugar na constituição familiar.

         E os grandes vilões da atualidade, falta de espaço e superproteção, que são duas coisas que caminham juntas, gerando um adulto inseguro e dependente. Nossas crianças precisam de espaço porque estão em desenvolvimento e só assim percebem e usam sua criatividade, como ao querer pegar um brinquedo que está em cima da cama dos pais, onde ela não consegue subir, então precisa usar de sua criatividade para solucionar esse problema (simples para um adulto) e alcançar seu objetivo de pegar o brinquedo. Sobre a superproteção, toda criança cai, toda criança se assusta, nosso papel é mostrar à ela que isso é algo comum e que poderá ocorrer muitas outras vezes, mas que ela irá superar cada uma das vezes, e não evitar que as coisas ocorram isolando a criança, como que mostrando que ela é incapaz de superar suas frustrações sozinha.

A falta de espaço e a superproteção privam a criança de perceber por si que ela tem necessidades das quais ela mesma tem capacidade de suprir, e que o adulto estará sempre ali para ajudá-la quando precisar.

         No geral, as crianças optam pelo caminho mais fácil que é mexer com a culpa dos pais por negarem coisas à esses seres tão frágeis e sensíveis. Adultos, não se deixem manipular pelas crianças, vamos gerar adolescentes e adultos seguros de si, conhecedores de suas emoções e de sua capacidade de superar obstáculos.

         Amar nossas crianças com carinho e atenção é necessário, mas muitas vezes, dizer não é a forma mais real e profunda de amar seu filho, mesmo que neste primeiro momento ele não perceba isso.


“Se a educação de filhos fosse fácil, nunca teria começado com algo chamado parto. Cria-se o gado para o abate. Educa-se a criança para a vida. ”

por Cristiane A. Diniz - Psicóloga

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